domingo, 25 de agosto de 2013

Resumo do filme “O Enigma de Kaspar Hauser”



O Enigma de Kaspar Hauser é uma das mais famosas obras cinematográficas do diretor Werner Herzog (Alemanha, 1974). 

(Com a colaboração da leitora deste blog, Jessica Gago, incluo a informação correta) Kaspar Hauser é um nome próprio de origem alemã. O nome original do filme é: Jeder für sich und Gott gegen alle e esse sim significa "cada um por si e Deus contra todos". Kaspar Hauser, em tradução literal, significa "cada um por si e Deus contra todos". 
É um filme denso, que nos mostra uma visão sobre a humanidade e faz uma reflexão sobre a unicidade do ser humano, da história de vida e experiências de cada um, e sobre o quanto linguagem e cultura representam para o desenvolvimento psicológico do indivíduo.

Kaspar Hauser, um personagem real e enigmático que, quando encontrado em Nuremberg, em 1828, com supostamente 15 anos, quase não sabia falar, nem andar e não se comportava como humano, pois desde a mais tenra idade, foi privado do convívio social. Sua trajetória de vida é o triste resultado de sua carência de cultura e do
não desenvolvimento da linguagem. O total isolamento na caverna por tanto tempo, impactou fortemente sua formação como indivíduo.

Muito tempo após sua reintegração na sociedade, já com a linguagem mais desenvolvida, percebe-se ainda a dificuldade de Kaspar Hauser em entender às pessoas e suas reações. Enquanto privado do convívio social, o silêncio era sua única companhia. Não somente a ausência de vozes externas, mas o silêncio interno, da mente vazia. Kaspar Hauser não poderia conhecer a si mesmo sem ter alguma relação interpessoal, sem referências. Não havia a linguagem para que ele pudesse definir as coisas que via e experimentava no cativeiro.

Sinopse
O filme apresenta Kasper Hauser em diversos momentos de sua vida e como se dá o desenvolvimento mental após o cativeiro.

No cativeiro, Kaspar Hauser aparece acorrentado, vítima de um homem com capuz, cujo rosto não pode ser visto, que lhe alimenta com pão e água e lhe ensina algumas palavras. Kaspar Hauser viveu nessa situação até o dia que esse homem, única figura humana com quem tinha contato, decide tirá-lo do cativeiro e ele então começa a aprender a andar. Esse mesmo homem o abandona em uma praça de Nuremberg, Alemanha. Kaspar Hauser fica atônito até ser encontrado por outro homem que lhe faz uma série de perguntas que ele não consegue compreender.

Logo a notícia da presença estranha daquele rapaz se espalha e Kaspar Hauser se torna alvo da curiosidade dos habitantes da cidade. Como as autoridades não conseguiram decifrar o enigma, Kaspar Hauser passa a viver em um estábulo sob a contínua observação das autoridades que só tinham as informações que o rapaz portava ao ser encontrado: um rosário, umas orações católicas manuscritas e uma carta que mencionava seu nome, a data de seu nascimento e a indicação de que ele deveria se tornar um cavaleiro tal como seu pai, cuja identidade não é revelada.

Em outro momento do filme, inicia o contato de Kaspar Hauser com a sociedade. As autoridades perceberam que ele só se alimentava de pão e água e que seus pés estavam feridos. Descobriram também que ele era capaz de reproduzir seu nome (um rudimento de escrita). Diagnosticaram seu caso como uma mente confusa que não poderia ser submetida a um inquérito policial e decidiram mandá-lo para a prisão junto com outros vagabundos.
Seu primeiro contato em um ambiente social é com a família do guarda do presídio e se dá através do filho do guarda, que o ensina a pronunciar as palavras com auxílio de um espelho. É com essa família que Kaspar Hauser toma seu primeiro banho e aprende a usar os talheres. A filha do casal tenta ensinar música para Kaspar Hauser e, apesar da dificuldade com a letra da melodia, ele se identifica com os sons. Kaspar Hauser tinha mais afinidades com animais e crianças.
As autoridades continuaram a investigação para saber mais sobre Kaspar Hauser, mas os gastos para mantê-lo longe da sociedade estavam altos e, então, decidiram enviá-lo para um circo.

Nesse novo momento, o filme apresenta as agruras e humilhações pelas quais passou Kaspar Hauser durante o tempo que esteve no circo. Ele é apresentado em espetáculos como uma aberração junto com outros indivíduos que também são especiais, cada um de uma forma diferente. Todos conseguem fugir do circo, correndo das pessoas que querem caçá-los. Kasper Hauser se esconde em uma cabana e é encontrado por um professor.

Após esse primeiro encontro com o professor Daumer, passam-se dois anos e Kaspar Hauser aparece como filho adotivo do professor. A cena mostra o professor e Kaspar Hauser assistindo a um jovem cego, Florian, tocar piano. Kaspar chora de emoção, pois a música o sensibiliza. Kaspar Hauser se sente envelhecido e cansado de tentar aprender coisas que para ele são difíceis e muitas vezes, sem sentido. O professor o consola e tenta reanimá-lo dando como exemplo o jovem Florian, que apesar de cego e de ter perdido toda a família em um acidente, não desanimou e toca piano o dia todo.

Após esse episódio, o filme passa a outro momento e Kaspar Hauser aparece tomando chá com os padres. Os religiosos estão interessados em saber o quanto o rapaz conhece de Deus. Kaspar Hauser os surpreende dizendo que não consegue imaginar que Deus tivesse criado tudo o que existe no mundo a partir do nada. Os padres tentam convencê-lo a crer através da fé e mais uma vez Karpar Hauser, em sua simplicidade e inocência, esclarece com muito bom senso, que precisará melhorar sua leitura e sua escrita para, posteriormente, compreender o restante.

Em todos os momentos do filme em que Kaspar Hauser é confrontado por alguém, ele se mostra muito mais sensato e lógico do que os homens educados.

Quando Kaspar Hauser é convidado para sua primeira festa, mais uma vez se torna uma atração para os convidados. Kaspar é informado que o lorde que o convidou tem a intenção de adotá-lo e levá-lo para a Inglaterra. Porém, Kaspar Hauser não consegue causar uma boa impressão ao lorde e não se sente bem no ambiente festivo.

Em outro momento importante da trama, Kaspar Hauser sofre um atentado. Sua fama começa a incomodar algumas pessoas. Durante o atentado, Kaspar não se defende e nem pede ajuda. Machucado, procura um local escuro para se esconder, como se quisesse retornar ao seu tempo de cativeiro, quando não era atormentado pelos homens. Mais uma vez, Kaspar Hauser é auxiliado pelo professor Daumer, que o leva para casa e cuida para que ele se recupere. Kaspar Hauser tem delírios onde se encontra com a morte.

Pouco tempo depois, Kasper Hauser sofre um segundo atentado. Mesmo machucado, procura pelo professor Daumer e conta o que se passou. No local do episódio, o professor encontra um saco com um bilhete que sugeria o motivo pelo qual Kaspar Hauser havia sido atacado e fica subentendido que o atacante poderia ser seu pai. A verdade sobre a origem de Kaspar Hauser fica para sempre em segredo.

Kaspar Hauser morre rodeado por aqueles que lhe foram mais próximos durante sua curta trajetória de vida em sociedade. Após sua morte, ele é levado para autópsia, cujo relatório aponta uma anormalidade no cerebelo que afetou seu desenvolvimento intelectual, acreditando as autoridades que haviam encontrado as respostas a todas as questões pendentes em torno desse homem diferente, Kaspar Hauser.

Essa obra do diretor Herzog é repleta de simbolismos. Podemos estudar as experiências vividas por Kaspar Hauser pela ótica tanto das ciências médicas como das sociais. A importância do aprendizado da linguagem para o bom relacionamento interpessoal é o fator que mais chama a atenção. Kaspar Hauser menciona em uma de suas falas:
- Tenho que aprender a ler e a escrever para depois poder compreender.

Conhecer o mundo pela linguagem, por signos linguísticos, parece não ser suficiente para Kaspar Hauser. Vygotsky insiste que o pensamento e a linguagem se originam independentemente, fundindo-se mais tarde no tipo de linguagem interna que constitui a maior parte do pensamento maduro. (Saboya, 2001 – p.5)

Kaspar Hauser não passou por um processo de socialização, onde exercitaria a compreensão através da prática social, não consegue atribuir significado às coisas, mesmo tendo adquirido a linguagem. Assim, analisando o caso de Kaspar Hauser, somos levados a pensar que não apenas o sistema perceptual, mas as estruturas mentais e a própria linguagem são resultantes da prática social, ou seja, as práticas culturais "modelam" a percepção da realidade e o conhecimento por parte do sujeito. (Saboya, 2001 – p. 6)


Referências


Saboya, Maria Clara Lopes - O ENIGMA DE KASPAR HAUSER (1812?-1833): UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIAL - Psicologia USP  vol.12  no.2  - São Paulo  2001
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-65642001000200007 

Resumo do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”


Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society) é um filme americano de 1989, com direção de Peter Weir.  Robin Williams se destaca no papel do professor John Keating com uma excelente interpretação.

O filme trata da relação educador-aluno tendo como fundo o ensino em uma sociedade autoritária, tanto na família como na escola. O drama se desenrola em meados de 1959, em uma tradicional escola preparatória, só para rapazes, chamada Academia Welton. 

No início do filme, o diretor da Academia discursa e dá ênfase aos princípios que regem aquela instituição:  tradição, honra, disciplina e excelência. Era uma época em que os filhos seguiam carreiras impostas pelos pais e as expressões artísticas não tinham espaço.

O professor de poesia, John Keating, é ex-aluno da Academia e traz uma nova forma de ensinar. Keating se contrapõe ao sistema de ensino da época e introduz seu ideal pedagógico. Seus métodos são inusitados, mas levam os alunos a pensarem por si próprios, a terem uma visão crítica, a exporem seus sentimentos escrevendo poemas. O professor Keating, que na primeira aula informa que gostaria de ser chamado de Ó Capitão! Meu Capitão! (Ó Captain! My Captain!) em alusão a um poema de Walt Whitman[1], tenta demover seus alunos da passividade criada pelo sistema de autoritarismo, que não permite que eles reflitam sobre suas vidas e seus desejos.  O professor os instiga com reflexões sobre o papel de cada um em sua existência, sobre a fragilidade da vida, sobre a temporalidade. Ele se utiliza de uma expressão em latim para se referir ao estado de alma que todos deveriam ter “Carpe Diem” – aproveite a vida.

Alguns de seus alunos começam a viver o ideário Carpe Diem e descobrem que na época que Keating estudara na Academia, ele fez parte da  Sociedade dos Poetas Mortos, onde seus membros se reuniam para declamar suas poesias e expressar suas ideias. Esse grupo de alunos do professor Keating  resolve recriar a Sociedade nos mesmos moldes do passado, e seus encontros noturnos são em uma caverna nas redondezas da Academia.

Keating quer que aqueles adolescentes, com excesso de atividades e pesadas cargas em seus ombros, alimentem sonhos e fantasias, que tenham mais do que a formação para se tornarem médicos, engenheiros, advogados ou outra carreira tradicional. Com o ressurgimento da Sociedade dos Poetas Mortos, os alunos envolvidos vivem uma verdadeira revolução em suas existências, encontram novos interesses e vocações e a juventude floresce em cada um com toda energia, fazendo com que eles deixem a letargia em que viviam.

Em suas aulas, o professor Keating os faz refletir sobre o que torna nossas existências valiosas: aquilo que está relacionado com o espírito, com o prazer, com a alegria. Só através da poesia e da literatura vamos encontrar eco para essas reflexões.

O idealismo do professor, seu encantamento pela vida, seu amor à profissão de educador encontra nos alunos terreno fértil para a transformação. Contudo, toda essa pureza de princípios entra em choque com o conservadorismo da escola e da família. Isso se dá de forma tão opressora, que leva a dissolução da Sociedade dos Poetas Mortos, a desentendimentos entre o grupo, ao suicídio do aluno Neil e, culmina com a demissão do professor, acusado de ser o responsável pela morte do rapaz, atribuído aos seus métodos de ensino que incitavam os alunos a cometerem atos de rebeldia.

As cenas finais do filme mostra a classe do professor Keating, cujo o estudo de poesia passa a ser ministrado pelo diretor da Academia. O diretor é surpreendido na sua primeira aula com uma manifestação dos alunos a favor de Keating, quando este aparece na sala para pegar seus pertences e ir embora. É ao som de “O Capitão! Meu Capitão!“, com todos os alunos da classe em pé em cima de suas carteiras, que Keating se despede e agradece ao apoio.
È importante notar o quanto o papel do educador impacta a vida dos jovens e que em suas mãos está a tarefa de formar cidadãos responsáveis por seus atos, críticos, mas também criativos, sonhadores; de preparar os jovens para um mundo em constante transformação, ajudando-os a quebrar paradigmas.

A obra nos faz refletir também sobre o sistema de ensino atual que ainda apresenta muitas semelhanças com a escola tradicionalista do filme: os valores sociais, o método de ensino com fórmulas já prontas, o direcionamento do estudo voltado a formar os alunos para entrarem em faculdades de primeira linha.
Fica a questão: será que um professor como John Keating encontraria portas abertas nas atuais escolas públicas ou particulares ?  Acho muito difícil.

Ó Capitão! Meu Capitão! (Ó Captain! My Captain!) 
Walt Whitman
Ó Capitão! Meu Capitão! Finda é a nossa tormentosa viagem, 
O barco venceu galhardamente todas as borrascas, o almejado troféu nos pertence, 
O porto está à vista, já ouço os sinos, a multidão exulta, 
Os olhares seguem a obstinada fragata, o sombrio e intimorato navio. 

Mas, ó alma, minha alma, ó alma! 
No tombadilho, sobre coágulos rubros 
Jaz hirto e mudo meu Capitão! 

Ó Capitão! Meu Capitão! ergue-te e ouve os sinos! 
Ergue-te! para ti tremula a flâmula e vibram os clarins; 
Tuas são as braçadas e flores, as guirlandas ataviadas de fitas – por ti estão as praias escuras de gente,
É por ti que clama a ondeante multidão, as faces ansiosas te procurando. 

Meu Capitão! Pai extremado! 
É o meu braço que está sob tua cabeça! 
Deve ser sonho! No tombadilho, 
Hirto e mudo, meu Capitão! 

Não mais responde meu Capitão, lívidos os lábios, a boca inerte,
Meu pai não sente mais o meu braço, fugiu-lhe o pulso, extingui-se a chama,
Finda é a nossa tormentosa viagem, salvo e incólume ancora o barco,
O navio repousa da tormentosa viagem, o laurel vencido.

Exultai, ó praias! Tangei, ó sinos! 
Abafai minhas passadas de chumbo 
Pelo tombadilho, onde hirto e mudo, 
Jaz meu Capitão

Tradução: Oswaldino Marques (extraído do site http://www.meirellesdefaria.net/giovanni/capitao.htm




[1]  Walt Whitman (1819-1892), poeta, ensaísta e jornalista norte-americano, esceveu esse poema com o intuito de expressar o pesar perante a morte de Abraham Lincoln, então presidente dos EUA.(fonte Wikipedia)

Resumo do filme "Freud – Além da Alma"



Sigmund Freud (1856 – 1939) foi um médico neurologista judeu-austríaco que viveu a maior parte da sua vida em Viena.

Freud - Além da Alma é um filme norte-americano de 1962, dirigido por John Huston, que narra o período de vida do "pai da psicanálise", desde que ele se graduou no curso de Medicina na Universidade de Viena até a formulação da teoria da sexualidade infantil.

No prólogo, o narrador menciona que, junto com Copérnico e Darwin, Sigmund Freud revolucionou a maneira do ser humano ver a si mesmo.

O filme mostra Freud, por volta do ano de 1895, em seu processo de descobertas das patologias psíquicas e seu interesse pelos casos de histeria. Porém, os médicos do hospital em que Freud trabalhava consideravam a histeria impossível de ser tratada. Ansioso em obter respostas para acabar com o sofrimento dos pacientes, Freud decide ir para Paris, estudar a doutrina de Charcot, que acreditava que a consciência e o pensamento não eram a mesma coisa como defendido pela ciência da época. Em uma de suas aulas, Charcot demonstrou que a histeria não era uma doença exclusivamente feminina e nem fruto de bruxaria, mas sim uma patologia de origem psíquica. Freud já acreditava que havia pensamentos no estado inconsciente e começou a aplicar a hipnose para liberar esses pensamentos e sentimentos mais profundos de seus pacientes.

Depois de ter regressado a Viena, já casado com Martha, em uma de suas palestras na Sociedade Médica de Viena, Freud apresentou sua teoria sobre o inconsciente e os resultados que estava tendo com os pacientes que apresentavam traumas vindos de fatos ocorridos na infância. Enfatizou a necessidade de descobrir os elos que os uniam. Ele foi totalmente desacreditado pelos colegas e despedido do seu emprego no hospital.

Durante as terapias com seus pacientes, Freud começou a perceber o problema da repressão e, através da análise, procurou pelo trauma que causava os sintomas que se apresentavam. Em uma das sessões, ele se deparou com um paciente, que em estado hipnótico, sentia desejos pela própria mãe. Esse fato o espantou, pois o fez questionar seu próprio inconsciente. Frente aos sonhos que começou a ter, Freud iniciou uma autoanálise e a angustia o dominou. Esse foi seu primeiro momento de desânimo, quando decidiu parar de pesquisar. Entretanto, foi nesse contexto que começaram a surgir as primeiras linhas da teoria sobre a sexualidade.

Ao procurar o médico e amigo Breuer para desabafar, ambos perceberam que havia um erro na teoria de Charcot: a mente não se dividia, apenas tirava o trauma da consciência, deixava as lembranças inconscientes e as emoções eram descarregadas fisicamente. Freud, então, retomou suas pesquisas, com o apoio do Dr. Breuer, e concluiu que a hipnose não era suficiente para curar seus pacientes, pois os sintomas permaneciam após os doentes entenderem os motivos que os levaram àquelas patologias. Freud passou a experimentar a hipnose de modo diferente, tentando fazer com que as lembranças obtidas por seus pacientes continuassem após o momento do transe. Às sessões analíticas, baseadas na livre associação, somou-se a interpretação dos sonhos, que serviu de ferramenta para que Freud encontrasse os fundamentos da psicanálise: o inconsciente e sua importância.

Durante todo o tempo que estudou seus pacientes, procurando penetrar nos seus inconscientes, viveu, concomitantemente, um enorme conflito interior tentando desvendar suas próprias neuroses. Esses conflitos pessoais o levaram a desistir, pela segunda vez, de pesquisar sobre a histeria. Foi em uma conversa com Meynert, o diretor do hospital que o havia despedido no passado e que se encontrava gravemente enfermo, que Freud percebeu o valor de suas descobertas. Aquele homem que o havia insultado e ridicularizado frente a sociedade médica de Viena, acreditava em seu trabalho e se considerava um paciente em potencial. Meynert fez Freud perceber que ambos sofriam de neuroses. Meynert não queria  que Freud morresse como ele.

Após esse encontro, Freud elaborou a "Teoria das Neuroses", baseada em todos os casos já tratados, cujos os traumas estavam ligados à sexualidade. É Cecily, uma das pacientes do Dr. Breuer, supostamente curada, que volta a ter um surto e que vai ajudar Freud a comprovar suas teorias.

Quando seu pai faleceu, Freud teve reações complexas e sonhos amedrontadores. Breuer  comenta que os sonhos são ícones do inconsciente misturados com fatos do consciente e são de difícil interpretação. Freud se autoanalisa para descobrir se havia alguma falha cometida por seu pai que pudesse estar escondida nas profundezas de seu inconsciente. Freud não fugiu das conclusões que essa pesquisa poderia trazer à tona sobre seu pai e sua família. Esse estudo o leva a supor que as neuroses são frutos da sexualidade.

Na sua terapia com Cecily, decidiu abolir a hipnose e levou a paciente às suas lembranças através da livre associação, em estado plenamente consciente. Cecily falou de seus sonhos e fatos da sua vida e Freud percebeu que poderia chegar ao inconsciente mesmo com o paciente em estado consciente.  Freud levou Cecliy a se lembrar de fatos de sua infância e, mediante as informações recebidas, começou a se indagar se a criança, mesmo em tenra idade, seria pura, sem perversão.  Ele passa a analisar a sua própria infância e relacioná-la aos sonhos que teve na época que o pai faleceu. Chegou a sentir culpa por pensar que havia desonrado o pai.

Desorientado com suas descobertas decide, pela terceira vez em sua carreira, desistir e até mudar de cidade. Uma conversa com sua esposa o fez voltar às suas pesquisas. Martha leu uma anotação que Freud havia escrito em sua agenda nos tempos de estudante: “O progresso é como o aprender a andar, consegue-se perdendo e ganhando equilíbrio.  É uma série de erros... De erro em erro acaba-se descobrindo a verdade".  Nesse momento, Freud tem um vislumbre da verdade que ele perseguia ao se lembrar também de haver escrito: "...o falso é às vezes a verdade de cabeça para baixo". Descobre que no universo da fantasia pode estar a realidade. Uma fantasia transportada para a fase adulta, que não sendo trabalhada, torna-se um recalque.

Freud altera sua teoria, concluindo que a criança também tem seus instintos sexuais desde quando nasce. Na terapia com Cecily, ele percebeu o motivo dela amar o pai e odiar a mãe. Na fase em que o indivíduo começa a distinguir o certo e o errado, surge a repressão aos seus desejos instintivos. Ao mostrar sua nova teoria para Breuer, o médico e amigo tenta dissuadi-lo de apresentar suas ideias para os outros médicos, pois sabia que seria muito difícil de serem aceitas.

Freud ignorou os conselhos do amigo e fez palestra ao Conselho de Neurologia e Psiquiatria de Viena, onde foi extremamente hostilizado. Explanou sobre o erotismo infantil desde o nascimento do bebê, iniciado pelo sugar dos seios de sua progenitora e  pelas carícias que recebe da mãe pelo corpo durante o banho, culminando em uma relação de amor possessivo que será abruptamente abalada quando a criança descobre a presença do pai, que passa a ser um rival.

Freud explicou que a teoria não era nova, pois os gregos já haviam percebido essa neurose quando criaram o clássico Édipo Rei, que matou o pai para se casar com a mãe e passou o restante da sua vida atormentado pela culpa, vagando cego e sem um lar. Freud relatou aos médicos da plateia que o amor da filha pelo pai e do filho pela mãe, na infância, é um fato que acontece com toda criança e o desafio maior de todo ser humano é superar esse complexo. Ao consegui-lo, o indivíduo se torna um ser humano completo. Caso não consiga superar o complexo, estará sujeito às neuroses.

A partir disso, as teorias do Complexo de Édipo (para os meninos) e do Complexo de Electra (para as meninas) começam a ser consideradas nos tratados psicanalíticos que estudam a importância da sexualidade na estruturação do psiquismo humano.

O final do filme leva o espectador a uma autoanalise, pois Freud está no cemitério em frente à lápide de seu pai e o narrador diz:
Há dois mil anos essas palavras foram gravadas no templo de Deifos: “Conhece-te a ti mesmo.” 
São o início da sabedoria. Nelas está a esperança da vitória sobre o mais antigo dos inimigos: a vaidade.
Esse conhecimento está agora ao nosso alcance.

Vamos usá-lo ?  Esperemos que sim.