O Enigma de Kaspar Hauser é uma das mais famosas obras cinematográficas do diretor Werner Herzog (Alemanha, 1974).
(Com a colaboração da leitora deste blog, Jessica Gago, incluo a informação correta) Kaspar Hauser é um nome próprio de origem alemã. O nome original do filme é: Jeder für sich und Gott gegen alle e esse sim significa "cada um por si e Deus contra todos".Kaspar Hauser, em
tradução literal, significa "cada um por si e Deus contra todos".
É um filme denso, que nos mostra uma visão sobre a humanidade e faz uma reflexão sobre a unicidade do ser humano, da história de vida e experiências de cada um, e sobre o quanto linguagem e cultura representam para o desenvolvimento psicológico do indivíduo.
(Com a colaboração da leitora deste blog, Jessica Gago, incluo a informação correta) Kaspar Hauser é um nome próprio de origem alemã. O nome original do filme é: Jeder für sich und Gott gegen alle e esse sim significa "cada um por si e Deus contra todos".
É um filme denso, que nos mostra uma visão sobre a humanidade e faz uma reflexão sobre a unicidade do ser humano, da história de vida e experiências de cada um, e sobre o quanto linguagem e cultura representam para o desenvolvimento psicológico do indivíduo.
Kaspar Hauser, um personagem real e enigmático que,
quando encontrado em Nuremberg, em 1828, com supostamente 15 anos, quase não
sabia falar, nem andar e não se comportava como humano, pois desde a mais tenra idade, foi privado do convívio
social. Sua trajetória de vida é o triste resultado
de sua carência de cultura e do
não desenvolvimento da linguagem. O total isolamento na caverna por tanto tempo, impactou fortemente sua formação como indivíduo.
não desenvolvimento da linguagem. O total isolamento na caverna por tanto tempo, impactou fortemente sua formação como indivíduo.
Muito
tempo após sua reintegração na sociedade, já com a linguagem mais desenvolvida,
percebe-se ainda a dificuldade de Kaspar Hauser em entender às pessoas e suas
reações. Enquanto privado do convívio social, o silêncio era sua única
companhia. Não somente a ausência de vozes externas, mas o silêncio interno, da
mente vazia. Kaspar Hauser não poderia conhecer a si mesmo sem ter alguma
relação interpessoal, sem referências. Não havia a linguagem para que ele
pudesse definir as coisas que via e experimentava no cativeiro.
Sinopse
O filme apresenta
Kasper Hauser em diversos momentos de sua vida e como se dá o desenvolvimento
mental após o cativeiro.
No
cativeiro, Kaspar Hauser aparece acorrentado, vítima de um homem com capuz,
cujo rosto não pode ser visto, que lhe alimenta com pão e água e lhe ensina
algumas palavras. Kaspar Hauser viveu nessa situação até o dia que esse homem,
única figura humana com quem tinha contato, decide tirá-lo do cativeiro e ele
então começa a aprender a andar. Esse mesmo homem o abandona em uma praça de
Nuremberg, Alemanha. Kaspar Hauser fica atônito até ser encontrado por outro
homem que lhe faz uma série de perguntas que ele não consegue compreender.
Logo a
notícia da presença estranha daquele rapaz se espalha e Kaspar Hauser se torna
alvo da curiosidade dos habitantes da cidade. Como as autoridades não
conseguiram decifrar o enigma, Kaspar Hauser passa a viver em um estábulo sob a
contínua observação das autoridades que só tinham as informações que o rapaz
portava ao ser encontrado: um rosário, umas orações católicas manuscritas e uma
carta que mencionava seu nome, a data de seu nascimento e a indicação de que
ele deveria se tornar um cavaleiro tal como seu pai, cuja identidade não é
revelada.
Em outro momento
do filme, inicia o contato de Kaspar Hauser com a sociedade. As autoridades
perceberam que ele só se alimentava de pão e água e que seus pés estavam
feridos. Descobriram também que ele era capaz de reproduzir seu nome (um
rudimento de escrita). Diagnosticaram seu caso como uma mente confusa que não
poderia ser submetida a um inquérito policial e decidiram mandá-lo para a
prisão junto com outros vagabundos.
Seu
primeiro contato em um ambiente social é com a família do guarda do presídio e
se dá através do filho do guarda, que o ensina a pronunciar as palavras com
auxílio de um espelho. É com essa família que Kaspar Hauser toma seu primeiro
banho e aprende a usar os talheres. A filha do casal tenta ensinar música para
Kaspar Hauser e, apesar da dificuldade com a letra da melodia, ele se
identifica com os sons. Kaspar Hauser tinha mais afinidades com animais e
crianças.
As
autoridades continuaram a investigação para saber mais sobre Kaspar Hauser, mas
os gastos para mantê-lo longe da sociedade estavam altos e, então, decidiram
enviá-lo para um circo.
Nesse
novo momento, o filme apresenta as agruras e humilhações pelas quais passou
Kaspar Hauser durante o tempo que esteve no circo. Ele é apresentado em
espetáculos como uma aberração junto com outros indivíduos que também são
especiais, cada um de uma forma diferente. Todos conseguem fugir do circo,
correndo das pessoas que querem caçá-los. Kasper Hauser se esconde em uma
cabana e é encontrado por um professor.
Após esse
primeiro encontro com o professor Daumer, passam-se dois anos e Kaspar Hauser aparece
como filho adotivo do professor. A cena mostra o professor e Kaspar Hauser
assistindo a um jovem cego, Florian, tocar piano. Kaspar chora de emoção, pois
a música o sensibiliza. Kaspar Hauser se sente envelhecido e cansado de tentar
aprender coisas que para ele são difíceis e muitas
vezes, sem sentido. O professor o consola e tenta reanimá-lo dando como exemplo
o jovem Florian, que apesar de cego e de ter perdido toda a família em um
acidente, não desanimou e toca piano o dia todo.
Após esse
episódio, o filme passa a outro momento e Kaspar Hauser aparece tomando chá com
os padres. Os religiosos estão interessados em saber o quanto o rapaz conhece
de Deus. Kaspar Hauser os surpreende dizendo que não consegue imaginar que Deus
tivesse criado tudo o que existe no mundo a partir do nada. Os padres tentam
convencê-lo a crer através da fé e mais uma vez Karpar Hauser, em sua
simplicidade e inocência, esclarece com muito bom senso, que precisará melhorar
sua leitura e sua escrita para, posteriormente, compreender o restante.
Em todos
os momentos do filme em que Kaspar Hauser é confrontado por alguém, ele se
mostra muito mais sensato e lógico do que os homens educados.
Quando
Kaspar Hauser é convidado para sua primeira festa, mais uma vez se torna uma
atração para os convidados. Kaspar é informado que o lorde que o convidou tem a
intenção de adotá-lo e levá-lo para a Inglaterra. Porém, Kaspar Hauser não
consegue causar uma boa impressão ao lorde e não se sente bem no ambiente
festivo.
Em
outro momento importante da trama, Kaspar Hauser sofre um atentado. Sua fama
começa a incomodar algumas pessoas. Durante o atentado, Kaspar não se defende e
nem pede ajuda. Machucado, procura um local escuro para se esconder, como se
quisesse retornar ao seu tempo de cativeiro, quando não era atormentado pelos
homens. Mais uma vez, Kaspar Hauser é auxiliado pelo professor Daumer, que o
leva para casa e cuida para que ele se recupere. Kaspar Hauser tem delírios
onde se encontra com a morte.
Pouco
tempo depois, Kasper Hauser sofre um segundo atentado. Mesmo machucado, procura
pelo professor Daumer e conta o que se passou. No local do episódio, o
professor encontra um saco com um bilhete que sugeria o motivo pelo qual Kaspar
Hauser havia sido atacado e fica subentendido que o atacante poderia ser seu
pai. A verdade sobre a origem de Kaspar Hauser fica para sempre em segredo.
Kaspar
Hauser morre rodeado por aqueles que lhe foram mais próximos durante sua curta
trajetória de vida em sociedade. Após sua morte, ele é levado para autópsia,
cujo relatório aponta uma anormalidade no cerebelo que afetou seu
desenvolvimento intelectual, acreditando as autoridades que haviam encontrado
as respostas a todas as questões pendentes em torno desse homem diferente,
Kaspar Hauser.
Essa
obra do diretor Herzog é repleta de simbolismos. Podemos estudar as
experiências vividas por Kaspar Hauser pela ótica tanto das ciências médicas
como das sociais. A importância do aprendizado da linguagem para o bom
relacionamento interpessoal é o fator que mais chama a atenção. Kaspar Hauser
menciona em uma de suas falas:
-
Tenho que aprender a ler e a escrever para depois poder compreender.
Conhecer o mundo pela linguagem, por signos linguísticos,
parece não ser suficiente para Kaspar Hauser. Vygotsky insiste que o pensamento
e a linguagem se originam independentemente, fundindo-se mais tarde no tipo de
linguagem interna que constitui a maior parte do pensamento maduro. (Saboya, 2001 – p.5)
Kaspar
Hauser não passou por um processo de socialização, onde exercitaria a
compreensão através da prática social, não consegue atribuir significado às
coisas, mesmo tendo adquirido a linguagem. Assim, analisando o caso de Kaspar
Hauser, somos levados a pensar que não apenas o sistema perceptual, mas as
estruturas mentais e a própria linguagem são resultantes da prática social, ou
seja, as práticas culturais "modelam" a percepção da realidade e o
conhecimento por parte do sujeito. (Saboya,
2001 – p. 6)
Referências